quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Lindas Imagens - Depoimento de uma cega e sua cores.

Depoimento de uma cega e sua cores.
[Clarice Freire]

Eu não vejo. É o que dizem. Nunca vi a cor de nada.
Na verdade, não sei bem o que é uma cor, não sei nem o que é uma cor, já que nunca vi.
As pessoas dizem – escuto muito bem – que não acreditam no que não veem. Ou que só acreditam vendo.
Eu me pergunto se eu decidisse fazer o mesmo, se conseguiria viver. Afinal, nada ao meu redor existiria, nem mesmo essas pessoas que me dizem que só acreditam vendo. Se não as vejo, elas não existem e elas se transformariam automaticamente em fantasmas apenas com voz. Eu me divirto com a ideia. Enquanto me falam, penso “você é um fantasma. Por que dar ouvidos a você? Você não existe”. E em minha imaginação, toda aquela prepotência de quem só acredita no que vê se desmancha de maneira embaraçosa.
Fico feliz que enxerguem, mas, em minha mente, não veem nada.
O que penso, por exemplo, é invisível a todos. Me pergunto: então os pensamentos existem?
Eu não vejo, é o que dizem. Eu vejo sim. Sou daqueles que nasceram com mais sorte que você, que enxerga para me ler agora.
Eu acredito no que toco, na textura das coisas. Eu acredito no que escuto, na música das coisas.
Eu prefiro minhas cores imaginadas, do jeito que as sonho, de acordo com as formas que toco e as notas do que ouço.
Prefiro a elas do que as suas viciadas, acostumadas.
As mesmas cores todos os dias.
As minhas cores mudam diariamente, de acordo com minha imaginação.
Por isso, se a voz vem de dentro, de fora, do céu, da terra, ou de um rádio velho, eu não sou preconceituosa.
Ouço todas com igualdade e acredito no que eu escuto.
Por isso, eu vejo o coração. Conheço bem voz dele.
Vejo o mundo com o coração.
E, talvez, você não.

Boa Noite!

 
 
 
 
 
 
 
 
 
Calcedônia.

Um comentário:

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Assim que eu puder te responderei. Responderei em seu blog, se você não tem blog ou escreveu em anonimo te respondo aqui no post, tudo bem?
Beijos